Mais do que representantes da Associação dos Deficientes Físicos de Uberaba (Adefu/MG), clube sediado na cidade em que nasceram, a calheira Janaína e a atleta Karen são mãe e filha. Esta é a segunda vez que a dupla disputa uma competição de bocha no alto rendimento. A primeira foi o Campeonato Brasileiro de jovens da modalidade, realizado em Curitiba (PR), no último mês de maio.
Apesar da parceria recente em torneios, Janaína e Karen já vivem intensamente a bocha há muitos anos. A mãe já trabalhava na modalidade quando adotou a filha, à época com três anos. “Ela começou a me acompanhar nas competições muito novinha. E, com 12 anos, entrou em torneios escolares”, disse Janaína, que esteve na Seleção Brasileira de bocha entre 2006 e 2016.
Em seu último ano na equipe nacional, a mineira foi técnica do time BC4 (atletas com deficiências severas, porém que não recebem assistência) e auxiliar de José Carlos de Oliveira nos Jogos Paralímpicos do Rio 2016. Na ocasião, comandou o trio formado por Dirceu Pinto e os irmãos Eliseu e Marcelo dos Santos. Os três foram medalhistas de prata por equipe no megavento.
Depois de ser técnica e auxiliar, Janaína assumiu a função de calheira de Karen, ou seja, a pessoa que posiciona a calha na hora das jogadas. Em 2019, a jovem disputou as Paralimpíadas Escolares por Minas Gerais.
“Há três anos, eu a sentia ainda imatura para o esporte. Agora, ela está começando a entender o que é uma competição de bocha. Hoje mesmo, a Karen perdeu seu primeiro jogo na Copa Brasil e chorou. Ficou brava com a calha porque não conseguiu posicionar como queria. Ela fica muito ansiosa antes dos torneios, assim como fico também. Às vezes, até mais do que ela porque eu quero falar, mas não posso”, admitiu a mãe.
Karen tem paralisia cerebral e disputa jogos na classe BC3, que reúne atletas com deficiências muito severas. Nessa classe, é permitido o uso de instrumento auxiliar, como a calha, e a ajuda de outra pessoa. “Infelizmente, não tenho dinheiro para contratar um calheiro para ela neste momento. Não é indicado que a mãe ou o pai assuma essa função porque há uma relação afetiva muito forte, que, muitas vezes, pode atrapalhar o desempenho do atleta”, disse Janaína.
Embora lamente a necessidade de ser calheira de Karen, a ex-técnica da Seleção Brasileira reconhece os benefícios que a bocha promoveu na vida de sua filha. “Todo atleta precisa de responsabilidade para acordar cedo, treinar e manter o foco na hora dos jogos. Ela melhorou em todos os aspectos, mas sempre foi bastante participativa e comunicativa, mesmo sem verbalizar seus sentimentos. Estou a preparando para, daqui cinco a dez anos, competir em torneios com um grau de exigência maior”, finalizou Janaína.
A Copa Brasil reúne 43 atletas de 24 clubes, sediados em diversas cidades do Brasil, até a tarde deste sábado no CT Paralímpico. Um dos principais objetivos da competição é descobrir e aprimorar jovens talentos da bocha do país.
Patrocínio
A bocha é uma modalidade patrocinada pelas Loterias Caixa
Assessoria de Comunicação do Comitê Paralímpico Brasileiro (imp@cpb.org.br)