Imagine cidades acessíveis no Brasil e no mundo com transporte público adaptado, piso tátil, sinalização em braille, avisos sonoros, rampas de acesso, entre outros itens essenciais de infraestrutura. Apesar de alguns locais terem essa realidade e outros não, é fato que as barreiras existem e que ainda estamos na construção de uma sociedade com mais acessibilidade. Nesse contexto, as tecnologias assistivas estão aí para transformar vidas de pessoas com deficiência que têm o direito de ter autonomia para sair de casa quando quiserem.
Mas o que é tecnologia assistiva? É qualquer produto ou dispositivo projetado para melhorar a qualidade de vida e a independência de pessoas com deficiência. Alguns exemplos práticos: próteses para substituir membros ausentes e outras partes do corpo, dispositivos ópticos, lupas, cadeiras de rodas, andadores e bengalas e muitos outros.
Até 2030, dois bilhões de pessoas vão precisar acessar, pelo menos, uma tecnologia assistiva para exercer sua cidadania. Atualmente, 10% das pessoas com deficiência têm acesso à tecnologia de que precisam, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
No Brasil, temos 45,6 milhões de pessoas com deficiência – número do Censo 2010 apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso conta que, aproximadamente, 24% dos brasileiros declararam ter algum grau de dificuldade em pelo menos uma das habilidades investigadas (caminhar, ouvir, enxergar ou subir degraus) ou ter alguma deficiência intelectual.
A boa notícia é que muitas empresas têm trabalhado e inovado para transformar essa realidade. Analistas afirmam que a indústria da tecnologia assistiva tende a crescer rapidamente nos próximos anos. Segundo projeções da empresa Coherent Market Insights, o mercado global de tecnologia assistiva alcançará US $26 bilhões em 2024. Esse número é ainda maior de acordo com a Zion Market Research que tem uma estimativa de US $31 bilhões em 2024.
Iniciativas para acompanhar
Com tanto investimento, muitas startups se destacam nesse mercado que conta com tanta inovação e geração de empregos. É por meio da tecnologia assistiva que muitas pessoas conseguem realizar ações que jamais conseguiriam sem o uso da tecnologia. O preço delas ainda é um dos desafios do setor, mas há novas possibilidades de atender o público com o desenvolvimento de novas tecnologias, investidores e organizações na área.
Empresas como a OrCam Technologies, Kinova Robotics e a WHILL levaram mais de US $200 milhões em financiamento para seus produtos de tecnologia assistiva.
Abaixo, conheça algumas iniciativas inspiradoras que buscam impactar positivamente a vida de pessoas com deficiência.
– WHILL
A WHILL, com sede na cidade de San Carlos (Califórnia, EUA), produz veículos elétricos de mobilidade pessoal que permitem que pessoas com deficiência física se desloquem com mais facilidade.
O produto Model Ci busca complementar os movimentos de aventuras ao ar livre a atividades internas. A missão da empresa é oferecer mobilidade divertida e inovadora para todos.
– ORCAM
Foto: Divulgação / OrCam.
A OrCam é uma startup israelense que produz dispositivos de Inteligência Artificial (IA) vestíveis para pessoas com deficiência visual. Técnicas de visão computacional são utilizadas para ler textos e identificar rostos e objetos. O OrCam MyEye 2 é o dispositivo de tecnologia assistiva vestível produzido para pessoas com deficiência visual ou com dificuldade de leitura. A tecnologia permite que todos possam ler textos impressos ou digitais, em diversas velocidades, de perto ou de longe, em três línguas: português, inglês ou espanhol.
Ele reconhece, em tempo real, cores, cédulas de dinheiro, produtos e muito mais. Um dos destaques é que ele não precisa de conexão com a internet. Com apenas 22,5 gramas de peso, ele pode ser acoplado em, praticamente, qualquer par de óculos.
“O OrCam reúne várias tecnologias que já existem dentro de um equipamento. Traz também a facilidade de fazer diversas ações por meio de uma tecnologia intuitiva. Alguns exemplos disso: a pessoa consegue ler placas de rua, se localizar em shoppings ou qualquer outro lugar, ler livros, identificar cores – o que pode ajudar, inclusive, na hora de escolher a roupa que vai usar. Tudo isso com autonomia”, conta Doron Sadka, sócio diretor da Mais Autonomia – representante exclusiva da OrCam no Brasil.
Mizael Conrado, ex-jogador de futebol de 5 (para cegos) e presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), foi presenteado com o dispositivo OrCam MyEye 2 pelas mãos do jogador Lionel Messi. Confira o vídeo abaixo.
– WEWALK
Um dos desafios que muitas pessoas com deficiência visual encontram é desviar de obstáculos que estão acima do peito. A bengala inteligente WeWALK promete resolver esse problema e ainda conta com integração de smartphones para utilização de mapas e controle por voz, por exemplo.
Foto: Divulgação / WeWalk
Além de melhorar a mobilidade do usuário, ela tem conexão com a internet e utiliza sensores ultrassônicos e dados do próprio Google Maps para compreender os arredores e avisar sobre os obstáculos. Assista ao vídeo que mostra como a bengala funciona.
– Amparo Prosthetics
A startup Amparo Prosthetics tem feito próteses com custo acessível em diversas regiões do mundo. Ela conseguiu projetar um novo tipo de prótese e criar uma solução para amputados em áreas rurais africanas que não têm fácil acesso a exames médicos e a hospitais. Em 2019, venceu o Prêmio Especial de Inovação para Deficiência.
– Phoenix Instinct
A “Phoenix i” é uma cadeira de rodas mais leve, feita de fibra de carbono. Ela conta com um eixo móvel que ajusta automaticamente o centro de gravidade da cadeira para evitar acidentes causados por desequilíbrio.
A cadeira foi projetada pelo estúdio de design escocês Phoenix Instinct e criada com um sistema inteligente que faz com que ela se ajuste com frequência para dar o melhor desempenho possível ao usuário. Há sensores que detectam se a pessoa está inclinada para frente ou para trás e é capaz de mover a posição do eixo para ajustar seu centro de gravidade. Isso permite agilidade e estabilidade, e também reduz o risco de quedas para trás.
– Projeto EMA
O Projeto EMA – Empowering Mobility & Autonomy criou uma tecnologia para que pessoas paraplégicas possam pedalar com as próprias pernas. O aparelho conta com uma ação que age como um atalho que estimula os músculos do corpo por meio de choques programados.
A tecnologia desenvolvida pelo projeto faz a contração muscular de forma sequenciada e ritmada que é capaz de gerar movimento. É assim que o usuário consegue movimentar as pernas e tem força para pedalar.
EMA é um grupo de pesquisa que desenvolve tecnologias para aperfeiçoar a reabilitação de pessoas com deficiências motoras. Em especial, o trabalho foca no uso da estimulação elétrica para pessoas com lesões e doenças que afetam o sistema nervoso.
Do esporte para o dia a dia
Quando o assunto é esporte paralímpico, a tecnologia é importante para muitos atletas para a prática esportiva. Atletismo, esportes de neve, triatlo, parabadminton, tênis de mesa são algumas das modalidades que se beneficiam de soluções protéticas e lâminas para a atividade esportiva.
No rúgbi em cadeira de rodas, por exemplo, atacantes e defensores usam cadeiras de rodas feitas de alumínio, material bastante leve. Nessa modalidade, as cadeiras de ataque são mais arredondadas para dar agilidade ao atleta. Já as de defesa contam com grade para proteger dos choques.
E o que muita gente não sabe é que diversas inovações que surgem nas provas paralímpicas são transferidas para a sociedade e beneficiam milhões de pessoas. O mercado de próteses, inclusive, tem evoluído bastante e segue em constante busca por desempenho.
Foto: Washington Alves/EXEMPLUS/CPB
Em relação aos materiais, a lâmina de fibra de carbono, por exemplo, que é muito leve e usada pelos competidores de atletismo, já faz parte de próteses para diferentes necessidades do dia a dia. E o que também contribui para esse desenvolvimento é o fato dos atletas usarem os equipamentos no limite – exigem cada vez mais do material e ajudam a descobrir a durabilidade.
Vale destacar que as características dessas tecnologias variam de acordo com cada fabricante e que as próteses são feitas sob medida para cada pessoa e os componentes são escolhidos de acordo com o nível de atividade, peso corporal e tipo de amputação.