A etapa de Recife (PE) do Meeting Paralímpico foi realizada neste sábado, 31, com 358 atletas inscritos para participar das provas de atletismo, halterofilismo, natação, tiro esportivo e tiro com arco. A competição, que é organizada pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), foi realizada no Parque e Centro Esportivo Santos Dumont e no Caxangá Golf & Country Club.
Aos 18 anos, a pernambucana Kaylanne Timóteo Freitas disputou duas provas do atletismo: arremesso de peso e lançamento de disco, na classe F46 (deficiência nos membros superiores). Aos 15 anos, a atleta foi atacada por um tubarão na praia de Boa Viagem, na capital pernambucana. A mordida submeteu a jovem à amputação do braço esquerdo.
“Eu não queria entrar na água, uma amiga insistiu. Acabei indo porque não senti perigo, era uma área que eu sempre frequentava. Entrei e ouvi uma voz que eu deveria sair, mas algo acabou me prendendo e fiquei. Quando eu vi estava sendo atacada pelo tubarão. Consegui caminhar ainda, mas estava perdendo muito sangue, fraca, e acabei resgatada”, contou Kaylanne.
Ela ficou uma semana hospitalizada. Antes do acidente, Kaylanne era sedentária, e seu início no esporte foi no paradesporto. Com 18 anos recém-completados, ela já participa de provas de alto rendimento.
“Fui apresentada a esse mundo do esporte, que eu não conhecia. O esporte me salvou, e eu venho melhorando minhas marcas a cada competição. Já participei de regionais. Meu objetivo é conseguir bons resultados e participar também de torneios internacionais”, disse Kaylanne.
Ismael Marques, técnico de Kaylanne, a conheceu por meio de outro atleta, que fazia fisioterapia com a mesma profissional. Ele fez o convite para que a adolescente começasse a praticar o atletismo.
“Ela tem muito potencial. Retornamos agora aos treinamentos; ela ficou parada um tempo porque mudaria para São Paulo, mas acabou permanecendo em Recife. É dedicada, acho que vai crescer muito e conseguir participar de grandes competições”, disse Ismael.
Kaylanne competiu pela primeira vez em 2023, nas Paralímpiadas Escolares, aos 16 anos, no evento realizado na ocasião em Belém (PA). As Paralímpiadas Escolares são o maior evento esportivo do mundo para jovens com deficiência e a competição é realizada pelo CPB. Na ocasião, havia apenas cinco meses que a atleta havia sido atacada pelo tubarão. Agora a pernambucana, natural de Jaboatão dos Guararapes, faz sua estreia no Meeting dentro de casa.
No halterofilismo, a sergipana Camilla Feitosa, 38, bateu seu recorde pessoal neste sábado ao levantar 66 kg, superando a marca anterior, que era de 65 kg. Com 73 centímetros de altura e pouco mais de 20 kg, a atleta, que tem nanismo, viajou de Aracaju (SE) com sua equipe para participar do Meeting de Recife.
“Eu jamais imaginava que tivesse condição de participar de algum tipo de esporte. Fui acompanhar um amigo até a Universidade de Sergipe, e um técnico me viu e perguntou se eu queria participar. Achei que era brincadeira. Mas fiz o teste e levantei, sem treino, a barra de 20 kg, quase o meu peso. Isso foi em 2019; um ano e meio depois, eu já era vice-campeã brasileira”, contou Camilla.
“Estava com dor e febre esses últimos dias. Hoje, por causa do nervosismo, também acordei com indisposição estomacal. Mas deu tudo certo e consegui vencer a mim mesma”, disse Camilla.
Ainda no halterofilismo, José Arimateia (categoria até 97 kg), pernambucano de Pesqueira, quebrou o recorde brasileiro ao levantar 211 kg.
No Recife, houve tanto provas para o alto rendimento como também seletivas estaduais de quatro competições da diretoria de Desenvolvimento Esportivo do CPB: Paralimpíadas Escolares, Paralimpíadas Universitárias, Paralimpíadas Militares e Intercentros (competição entre crianças de 7 a 10 anos alunas de Centros de Referência do CPB).
Homenagem às campeãs paralímpicas
Além da participação dos atletas inscritos, a etapa de Recife contou com a presença especial de duas ex-atletas multimedalhistas paralímpicas: Suely Guimarães e Roseane Ferreira dos Santos, conhecida como Rosinha Santos.
Suely Guimarães, classe F56 (compete em cadeira de rodas), participou de cinco edições dos Jogos Paralímpicos, conquistando três medalhas ao longo de sua carreira no atletismo. Sua primeira medalha em Jogos Paralímpicos foi em Barcelona 1992, quando garantiu o lugar mais alto do pódio no lançamento de disco. Na edição seguinte, nos Jogos de Atlanta 1996, voltou a disputar a prova e ficou com o bronze. Sua terceira medalha veio nos Jogos Paralímpicos de Atenas 2004, quando foi a campeã novamente no lançamento de disco. Suely foi submetida à biamputação das pernas após sofrer um acidente na calçada de sua casa.
“É maravilhoso ver no meu Estado um evento com essa estrutura. Atletas jovens estão chegando muito fortes, o que mostra que o movimento paralímpico brasileiro terá sucesso por muitos anos”, disse Suely. Ela se emocionou bastante durante a execução do hino nacional brasileiro, na abertura da competição de atletismo.
“Na parte do ‘Verás que um filho teu não foge à luta”, eu sempre me emociono. São muitas lembranças de ótimos momentos também”, disse Suely.
Também esteve presente no Meeting de Pernambuco a recifense Rosinha Santos, que tornou-se nos Jogos de Sydney 2000 a primeira mulher brasileira a ganhar dois ouros em uma mesma edição de Jogos Olímpicos ou Paralímpicos ao vencer as provas de arremesso de peso e lançamento de disco da classe F58 (compete sentada), além de bater o recorde mundial nas duas disputas. Rosinha perdeu parte da perna esquerda após ser atropelada, em 1990, na calçada em frente à sua casa, por um caminhão.
“Na nossa época era preciso fazer rifa para conseguir dinheiro para passagens para eventos fora do Brasil. Hoje, os atletas têm uma ótima estrutura, conseguem se preparar, têm os equipamentos e o suporte do CPB. Veremos o Brasil brilhar muito nos eventos paralímpicos”, disse Rosinha.
A presença das atletas medalhistas no Meeting Paralímpico é uma iniciativa do CPB em comemoração aos 30 anos da instituição celebrados no último mês de fevereiro.
Desde abril, o evento teve etapas em Porto Alegre (RS), Rio Branco (AC), Florianópolis (SC), Porto Velho (RO), Curitiba (PR), Cuiabá (MT), Salvador (BA), Campo Grande (MS), Aracaju (SE) e Goiânia (GO). As próximas etapas serão em João Pessoa (PB) e Belo Horizonte (MG), no dia 7 de junho.
Patrocínio
Braskem e ASICS são as patrocinadoras oficiais do atletismo.
Assessoria de Comunicação do Comitê Paralímpico Brasileiro (imp@cpb.org.br)
