Além de não estar na mesma modalidade dos seus compatriotas, André também é o atleta mais velho da delegação. Antes de chegar à China, o gaúcho falou sobre a responsabilidade, mas, acima de tudo, da alegria de disputar uma edição dos Jogos Paralímpicos de Inverno. “O snowboard foi o esporte que quase custou a minha vida e me custou a perna [André teve que amputar a perna esquerda, em 2011, após quebrar o fêmur praticando a modalidade]. Estar em uma disputa no nível dos Jogos Paralímpicos já é uma vitória”, afirmou André.
O atleta também disse estar muito animado para fazer o seu melhor em Pequim. “Sinto que sou um exemplo de resiliência às minhas filhas, uma tem três anos e a outra, 11 meses. Quando elas crescerem, vão aprender a grandiosidade do feito do pai delas”, disse o gaúcho.
Em 2011, André quebrou o fêmur da perna esquerda após cair enquanto praticava snowboard, em Mammoth Mountain, na Califórnia, nos EUA. Depois de quatro operações em cinco dias para reconstruir sua perna, o membro afetado precisou ser amputado. Após a amputação, André chegou a disputar provas de triatlo e surfe adaptado até descobrir o snowboard paralímpico.
Como descobriu o snowboard e quando começou a praticar? Onde começou?
Primeiro, eu descobri o surfe. Nas minhas férias de verão, eu ia para a praia e me apaixonei pelo esporte. O snowboard é como se fosse o surfe na neve. Então, sempre quis aprender. Por isso, fui trabalhar em uma estação de esqui no Colorado (EUA) em 2004. Logo de cara, o snowboard causou um efeito em mim e vi que seria um esporte para a vida toda.
Como é ser o único atleta brasileiro do snowboard em Pequim?
Estou super animado, empolgado e, ao mesmo tempo, nervoso. É uma responsabilidade gigante “carregar” o Brasil nas costas. Vou tentar fazer o meu melhor. Um brasileiro nos Jogos Paralímpicos de Inverno, praticando snowboard, é como se fosse os jamaicanos no [filme] “Jamaica Abaixo de Zero”. Esse foi o esporte que quase custou a minha vida e me custou a perna. Estar em uma disputa no nível dos Jogos Paralímpicos já é uma vitória. Sinto que sou um exemplo de resiliência às minhas filhas, uma tem três anos e a outra, 11 meses. Quando elas crescerem, vão aprender a grandiosidade do feito do pai delas. Devo muitos agradecimentos a todos que me possibilitaram ir para Pequim.
Qual tem sido a sua rotina de treinos a dez dias do início dos Jogos?
Neste momento, estamos na correria. Tenho feito diversos exames PCR para conseguir embarcar à China. Fora isso, estou treinando as técnicas de movimentos do snowboard na neve e fora dela. Na montanha, com neve e acompanhado pelo meu técnico, consigo corrigir os movimentos que tentarei repetir nas provas: posicionamento na prancha, curvas de frente e de costas, leitura de percurso, saltos etc. Isso acelera o aperfeiçoamento. Lá em Pequim, vou disputar provas em duas categorias do snowboard: slalom e snowboard cross. No slalom, eu tenho um pouco mais de dificuldades e não consegui treinar como queria, pois, infelizmente, os treinos foram cancelados nas últimas semanas. No entanto, vamos com o que temos e confiantes para a China.
Quais são as suas expectativas para a competição em Pequim?
Sei que há atletas bem mais experientes e que já participaram de mais competições. Tenho humildade, sei do meu lugar e sou consciente de que é difícil, mas tudo pode acontecer no snowboard. Atletas favoritos podem cair. Enfim, tem um pouco de sorte também. Quem sabe, eu consiga um top 10?
Em uma autoanálise, quais são os seus desafios e os seus pontos fortes?
Os meus maiores desafios é a falta de treino no slalom, como eu expliquei antes, e saber que vou enfrentar adversários mais acostumados com as competições de snowboard. Além disso, ainda estou me adaptando às pranchas que usarei na China. Elas são mais rígidas. Estou testando e vendo quais funcionam melhor em determinadas provas. Por outro lado, eu não tenho nada a perder. Meus adversários não esperam que eu possa brigar por boas posições e posso surpreender neste sentido.