Apesar da celebração de mais um Dia Internacional do Cão-Guia, comemorado nesta quarta-feira, 28 de abril, ainda são poucos os cães-guias que atuam no Brasil. Alguns deles, no entanto, já são parceiros de atletas paralímpicos.
A data que é comemorada na última quarta-feira do mês de abril homenageia esses animais que auxiliam as pessoas com deficiência visual na locomoção e seus treinadores.
Recentemente, atletas cegos e com baixa visão puderam se candidatar para receber um cão-guia. A ação é fruto de uma parceria inédita do Instituto Federal Catarinense (IFC) com o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e a Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania, por meio da Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento (SNEAR). O IFC vai doar quatro animais para auxiliá-los em suas tarefas diárias.
Para inspirar quem tem interesse em ter um cão-guia e homenagear esses fiéis companheiros, separamos a história de duas duplas de atletas e cães-guias, confira:
Regiane e Cindy
A nadadora Regiane Nunes, 36 anos, nasceu com glaucoma e teve baixa visão até os 29 anos, quando ficou totalmente cega. A paulista de São Caetano do Sul conheceu a natação aos 15 anos por meio de um projeto de inclusão da prefeitura da cidade vizinha, São Bernardo do Campo. Desde então, ela participou de três edições de Jogos Paralímpicos, Pequim 2008, Londres 2012 e Rio 2016. As conquistas mais recentes da nadadora foram as três pratas pela classe S11 nos 100m costas, 100m e 50m livre nos Jogos Parapan-Americanos de Lima 2019.
A família nunca teve um cachorro. Em 2019, enquanto o pai e o irmão assistiam à Regiane no Campeonato Brasileiro de natação no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo, viram um atleta com um cão-guia. Era Emerson Neves com o seu animal Charlie. A facilidade com que eles se locomoviam encantou a família, que deu todo o apoio para a Regiane ter o seu cão de assistência.
Ela se inscreveu no processo, foi avaliada e, em dezembro de 2020, recebeu Cindy, uma cadela da raça labrador da cor amarela. A parceira da Regiane hoje tem dois anos e foi treinada pelo Instituto Magnus. “A Cindy foi muito bem recebida lá em casa. Mudou a minha vida e a minha família. Ela sente quando estou triste ou ansiosa é muita sensibilidade, mais do que eu imaginava”, comentou a atleta.
“Para mim, fazia muita falta a mobilidade. Eu cresci com muito zelo, numa família superprotetora que me ajuda em tudo. Mas isso começou a ficar desconfortável, como precisar de alguém até para as coisas mais simples. Eu tinha dificuldade de chegar até o vestiário, agora eu faço tudo sozinha, ela me guia para todos os lugares, fica lá me esperando terminar o treino. Além de ser cuidada, a Cindy me mostrou que eu posso cuidar. Sou responsável por ela, pelo bem-estar dela. É uma troca, uma relação muito forte”, completou a também educadora física e nutricionista.
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Leonardo e Black
O jogador de goalball e futebol de 5 Leonardo Moreno, 36 anos, nasceu com retinose pigmentar, uma doença hereditária e degenerativa que afeta a retina. Até os 27 anos, teve baixa visão, mas com a evolução da patologia, atualmente só tem percepção de vultos. Para se locomover aos treinos das duas modalidades pelo clube UNIACE, no Distrito Federal, Leonardo conta com a companhia do seu cão-guia Black, que é da raça labrador e tem oito anos.
Ele relata que a atenção do animal sobre o dono continua até durante a prática esportiva, quando Leonardo entra em quadra e precisa ficar distante do seu cão-guia.
“Black fica em um cantinho da arquibancada para ficar protegido e não correr o risco de levar uma bolada. As pessoas relatam que ele fica me olhando o tempo todo e, quando eu me movimento, ele acompanha com a cabeça. Mas eu não consigo ficar de olho nele o tempo todo. Às vezes, estou jogando e escuto alguém mexer com ele e não posso ir lá pedir para parar, porque ele ainda está trabalhando”, contou o jogador que também é técnico em informática.
A dupla tem seis anos de parceria. O labrador de cor preta, que é o segundo cão-guia do Leonardo, foi treinado pela Associação Brasileira de Ações Humanitárias (ABAH). O primeiro companheiro dele foi Cirus, um labrador de cor chocolate que faleceu em 2017. “Desde a época do Cirus, quando vou receber uma medalha, eu peço para colocarem no cachorro. É uma forma de reconhecer o trabalho dele e agradecer tudo que faz por mim”, comentou.
O brasiliense é o mais velho dos irmãos Moreno. Ele conheceu o goalball aos 14 anos a convite de amigos e apresentou para os irmãos mais novos, Leandro e Leomon, que tinha sete anos quando conheceu a modalidade. O caçula fez carreira na Seleção Brasileira da modalidade com a conquista do bicampeonato mundial, da prata nos Jogos Paralímpicos de Londres 2012 e do bronze na Rio 2016.
Cão-guia
O processo de formação de um cão-guia dura cerca de dois anos. Geralmente, são escolhidos cães das raças labrador e golden retriever. A primeira etapa é a fase de socialização, quando o filhote mora um ano com uma família que apresenta vários ambientes para ele e ensina os comandos básicos de comportamento. Em seguida, o cão retorna ao centro de treinamento, onde os instrutores vão ensiná-lo a guiar.
As pessoas com deficiência visual interessadas devem se inscrever nas instituições especializadas nesse trabalho como o Instituto Federal Catarinense (IFC). Os candidatos são avaliados e devem ter treinamento de orientação e mobilidade e se locomover bem com a bengala.
Na etapa seguinte, são avaliadas a compatibilidade entre candidatos e animais, além da capacidade das pessoas em serem usuárias de cão-guia. Por se tratar de um processo que exige empatia entre o animal e o futuro tutor, a escolha depende de diversos fatores, como perfil físico compatível (peso, altura, equilíbrio e velocidade de caminhada) e comportamental (temperamento, estilo de vida, rotina diária e profissão).
Depois que a dupla for formada, passa por um período de adaptação e treinamento até ser liberada para circular em todos os lugares e meios de transporte.
Os cães-guias auxiliam as pessoas com deficiência visual em várias tarefas cotidianas, como parar em sinais, desviar obstáculos e encontrar as portas dos estabelecimentos, entre outras habilidades. O animal graduado como cão-guia trabalha oito anos, em média, antes de se aposentar.
Assessoria de Comunicação do Comitê Paralímpico Brasileiro (imp@cpb.org.br)