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No halterofilismo, ausência de classes funcionais faz peso corporal dos atletas virar “trunfo” por medalha

Mariana D’Andrea mudou recentemente de categoria de peso corporal visando classificação para os Jogos Paralímpicos de Tóquio. Foto: Ale Cabral/CPB

O halterofilismo é a única modalidade no programa dos Jogos Paralímpicos em que não há a categorização, ou subdivisão, das classes funcionais dos participantes. Com este cenário, o peso corporal de cada atleta é que acaba sendo o grande “trunfo” na disputa por uma medalha.  

Isso porque, neste esporte, atletas com deficiências físicas diferentes competem entre si em uma classe única e há apenas divisão por gênero e peso corporal. Assim, muitos halterofilistas adotam estratégias nos levantamentos de barra com base nos quilos registrados na balança.    

Atualmente, os atletas são divididos em dez categorias de peso no masculino e outras dez no feminino, e o atleta precisa indicar em qual categoria de peso irá competir no ato da inscrição na competição.  

Antes do início da disputa, os atletas passam pela pesagem junto a arbitragem e o peso do halterofilista precisa estar enquadrado na categoria indicada. Caso contrário, estará impedido de participar do evento.   

Além disso, se houver empate no levantamento erguido, o peso corporal dos atletas é utilizado como critério de desempate e, aquele halterofilista com o menor peso registrado durante a pesagem, vence a disputa.  

“Indicamos que o atleta nunca esteja no limite da categoria, que esteja uns dois ou três quilos abaixo. Assim, em caso de empate, ele tem mais chances de vencer. Em contrapartida, ter o peso próximo ao mínimo da categoria não é recomendado pois o atleta pode perder em performance”, explica Valdecir Lopes, técnico da Seleção Brasileira de halterofilismo.  

Diferente de modalidades divididas unicamente pela classe funcional, no halterofilismo os atletas podem optar por mudar de categoria de peso durante a temporada visando melhores resultados.   

“Normalmente, avaliamos os últimos resultados em um ciclo de quatro anos de cada categoria, Campeonato Mundial e Jogos. Para subir ou descer de categoria, o atleta também precisa ser muito disciplinado com alimentação para ter sob controle o equilíbrio do seu peso todo tempo. Essa é uma estratégia que acontece no mundo todo, avaliar onde o atleta consegue fazer uma marca que mais se aproxima da medalha. Às vezes, a categoria de peso corporal maior levanta menos peso do que uma categoria de menor peso corporal”, explica Valdecir.  

Este foi o caso da paulista de Itu Mariana D’Andrea, que em 2019 passou da categoria até 67kg para até 73kg buscando uma classificação nesta categoria para os Jogos de Tóquio.   

“Não foi difícil fazer a mudança de categoria, foi bem estudado pelo meu treinador [Valdecir] e no período de um ano eu já fui ganhando um pouco de peso para me aproximar da categoria acima. Hoje, estou com uma folga do limite da categoria. Caso eu precise, por estratégia, retornar para a categoria abaixo [até 67kg] não vou encontrar dificuldades”, conta a campeã parapan-americana em Lima 2019 Mariana D’Andrea, que tem nanismo e começou na modalidade em 2015.  

No ano passado, Mariana participou da primeira Copa do Mundo online de halterofilismo organizada pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC, sigla em inglês). Na etapa realizada em julho, a atleta registrou a maior marca da carreira ao erguer 132kg. Vale ressaltar que as marcas obtidas na Copa do Mundo online não são homologadas para o ranking classificatório para os Jogos Paralímpicos de Tóquio.    

O ranking mundial do halterofilismo está paralisado desde março de 2020 devido à pandemia da Covid-19. Na última versão disponível no site do IPC, Mariana aparece em quarto lugar na categoria até 67kg, com a marca de 122kg e em quinto na categoria até 73kg, com 124kg na barra. Com o peso erguido durante a competição virtual no ano passado, 132kg, ela igualaria a marca da nigeriana Paulina Okpala (segunda colocada na categoria até 73kg).   

De acordo com os critérios de classificação do IPC para os Jogos Paralímpicos de Tóquio, já reformulados após o adiamento, os oito primeiros colocados por categoria de peso estão classificados. O ranqueamento será finalizado no dia 27 de junho de 2021 e os atletas brasileiros serão convocados posteriormente para a delegação brasileira pelo CPB.  

Apesar de não haver uma subdivisão por classes funcionais, há um grupo de deficiências físicas elegíveis para a modalidade como déficit de força muscular, déficit de amplitude de movimento, diferença entre os membros inferiores, baixa estatura, sequela/comprometimento físico-motor devido a lesões encefálicas como paralisia cerebral, trauma crânio encefálico e AVC.  

O halterofilismo compõe o programa dos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020 e a Seleção Brasileira da modalidade realiza nesta semana, até o domingo, 7, a primeira fase de treinos no CT Paralímpico. Nesta fase, foram realizados testes e avaliações para verificação dos efeitos da pandemia da Covid-19 na performance dos atletas e início dos ajustes visando a competição na capital japonesa.  

“Os resultados desta primeira semana de treinamento são muito positivos. Tivemos um fator importante que contribuiu para esses resultados: o empenho dos atletas. Eles deram o seu melhor a cada teste aplicado. Fizemos uma pesagem extraoficial para acompanhar as categorias e apenas um atleta estava fora do peso, mas já o orientamos para se manter na categoria”, conclui Valdecir.

Para promover os treinamentos dos atletas, o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) submete os atletas e treinadores a testes de PCR e sorologia com frequência, além de outras medidas de prevenção, como áreas específicas de circulação e rodízio de atletas durante os treinos, com limites de quantidade de pessoas por atividade e normas de distanciamento durante a permanência no CT, de acordo com o protocolo sanitário elaborado desde a reabertura parcial do CT, em julho do ano passado.  
 
Assessoria de Comunicação do Comitê Paralímpico Brasileiro (imp@cpb.org.br)

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