Quinto set, jogo empatado em 2 a 2 e o placar apontava vantagem de 10-6. Um filme passou na cabeça de Israel Stroh, afinal, a vaga nos Jogos Paralímpicos Rio 2016 ficou em xeque após uma situação parecida, em uma competição em 2015. Porém, o atleta mostrou que os equívocos do passado o fizeram evoluir e superou qualquer tipo de trauma para escrever mais um importante capítulo da história no tênis de mesa paralímpico brasileiro. Ao fechar o último set, ganhar por 3 a 2 (11/7; 5/11; 11/8; 5/11 e 11/9) e assegurar vaga na final da Classe 7, o jovem garantiu a primeira medalha em uma disputa individual dos Jogos – até então, a única conquista verde e amarela havia sido uma prata em Pequim/2008, na disputa por equipes, com Welder Knaf e Luiz Algacir.
A vaga para os Jogos acabou se concretizando em janeiro deste ano e, oito meses depois, ele tem a chance de chegar ao lugar mais alto do pódio. A disputa pelo ouro será nesta segunda-feira (12), às 10h45, contra o britânico William John Bayley, atual número 1 do mundo e mesmo adversário que Israel venceu na estreia por 3 sets a 1.
“Neste circuito, até chegar à Paralimpíada, perdi muito jogo que tinha chance real de ganhar. Para ter uma ideia, no Aberto do Chile, no ano passado, joguei com o francês que era o número cinco do mundo (Kevin Dourbecker). Estava 10-5 para mim, ele virou e era um jogo que, se eu ganhasse, estava classificado para a Paralimpíada. Perdi e tive de jogar mais um torneio para fazer a pontuação necessária. Chegou novamente em algo parecido e pensei: ‘Se aprendi com aquele jogo, penso em não perder aqui de novo’. Quando estava 10 a 9, claro que fiquei mais nervoso, o braço pesou, mas falei: ‘Não vou perder. Aquela derrota lá tem de ter servido de alguma coisa” e acho que serviu’, disse.
Com um sorriso no rosto, Israel afirma ainda não ter ideia da representatividade de estar nessa final, mas ressalta que, neste momento, também prefere não dar muita atenção a isso.
“Ainda não tenho essa noção, mas nem sei se quero ter também. A gente está levando a coisa de uma forma muito natural, como qualquer outro jogo de tênis de mesa, em qualquer outra competição, embora a gente saiba que não é. Procuro ser o mais frio possível e acho que essa é uma das minhas armas: esquecer a dimensão que tudo isso aqui tem. Embora muitas vezes eu não consiga, busco fazer isso”, avisa, revelando qual será a tática para a final: “Vou ficar longe de redes sociais, tentar me concentrar, ler um livro… Não sei quanto tempo conseguirei ficar nesse isolamento (risos)” .
A caminhada de Israel durante os Jogos Paralímpicos Rio 2016 teve diversos obstáculos, mas ele soube superá-los, o que trouxe uma certa confiança no decorrer da competição.
“Cheguei aqui sabendo que todas as etapas do processo eu consegui cumprir. Então, pensei que tinha uma condição real de fazer uma boa competição. Depois, consegui ganhar de jogadores que disputariam medalha, então, fui acreditando que era possível. Quando estreei vencendo o primeiro do mundo, vi que daria para disputar de igual para igual. Dei uma tropeçada no grupo, mas joguei abaixo do que poderia. Depois, vieram as vitórias contra o terceiro (ucraniano Mykhaylo Popov), segundo (ucraniano Maksym Nikolenko) e quinto do mundo (chinês Shuo Yan). Foram vitórias que me fizeram acreditar que era possível”, concluiu.