Fernando, inclusive, foi o responsável por convidar Ninão para a semana de treinamento. Tanto o treinador quanto alguns jogadores da Seleção passaram a monitorar o paraibano, por meio das redes sociais, após ele ter amputado parte da perna direita no ano passado, devido a uma osteomielite, doença infecciosa que atinge os ossos. “Eu sentia muita dor, tinha febre e meu pé ficava estourado. Mas eu não tinha noção de que era algo sério. Achava que tudo isso era normal por causa da minha altura e do meu peso [Ninão pesa mais de 200 kg]”, pontuou o paraibano, natural da cidade de Assunção, localizada a cerca de 230 km de João Pessoa.
Quando foi diagnosticado com a infecção, há cinco anos, Ninão chegou a refutar a amputação. “Não queria. Tinha medo. Embora estivesse preso em casa por causa das dores, achei que seria ainda mais difícil me locomover sem parte da perna. Eu tentei, até o fim, ficar com o meu pé. Não quis entender que a amputação era a única solução”, admitiu.
Em 2021, ele foi convencido a se submeter ao procedimento. “No final das contas, foi melhor mesmo. Hoje, graças a Deus, posso comer de novo as comidas que eu gosto: porco, carneiro e galinha, por exemplo. Antes, era só comer um desses alimentos que inflamava. Além disso, também voltei a sair de casa com a cadeira de rodas que o pessoal da minha cidade ajudou a comprar”, afirmou, referindo-se à “vaquinha” feita em Assunção para arrecadar cerca de R$ 3 mil.
Antes de ser diagnosticado com osteomielite e apresentar maiores dificuldades de locomoção, Ninão realizava trabalhos braçais no garimpo e na agricultura. Hoje, aposentado por invalidez, o homem mais alto do país, que calça 58 e, em pé, tem um alcance de 3,05 m com os braços levantados, entende que o vôlei sentado pode ser uma nova atividade remunerada.
“Nunca havia tido um contato com a modalidade. Foi amor à primeira vista. Estou gostando muito de treinar com a Seleção. Fui muito bem recebido por todos. Espero continuar no esporte. Estou realmente empolgado. É ótimo fazer algo que você gosta”, disse o paraibano, que tem impressionado pelo seu poder de bloqueio. “Os caras falam: ‘É difícil passar por você. É como se fosse uma muralha, um paredão’”, contou aos risos.
Para ter sucesso no vôlei sentado, o brasileiro já tem uma inspiração. Bicampeão paralímpico, Rio 2016 e Tóquio 2020, o iraniano Morteza Mehrzad, 34 anos e 2,46 m de altura, é o segundo homem mais alto do mundo. Um dos astros da modalidade atualmente, Mehrzad não conhecia o esporte até 2011, quando recebeu um convite do técnico da seleção de seu país para treinar com a equipe – assim como aconteceu agora com Ninão no Brasil.
Neste período na capital paulista, além de treinar com a Seleção, o paraibano também iniciou conversas com o Clube Atlético Paulistano para ver se há possibilidades de defender a instituição. Em meio a uma rotina de atleta de alto rendimento em São Paulo, Ninão ainda largou um pouco o videogame, seu hobby favorito. “Gosto dos games de futebol. Sempre que posso, passo o dia jogando com meus sobrinhos, de 14 e 17 anos, e meus irmãos”, finalizou.
Patrocínios
O vôlei sentado é uma modalidade patrocinada pelas Loterias Caixa
Assessoria de Comunicação do Comitê Paralímpico Brasileiro (imp@cpb.org.br)