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Brasil supera donos da casa e assume terceira colocação no Mundial de natação paralímpica em Manchester 

Cecília Araújo exibe medalha e mascote do Mundial de natação paralímpica de Manchester | Foto: Alessandra Cabral/CPB

O Brasil teve mais um dia dourado no Mundial de natação paralímpica de Manchester, Inglaterra, nesta quinta-feira, 3. Nas quatro horas em que duraram as finais, a Seleção subiu três vezes ao lugar mais alto do pódio, com o catarinense Talisson Glock, da classe S6 (limitação físico-motora), a potiguar Cecília Araújo (S8) e o mineiro Gabriel Araújo (S2).

Além dos ouros, o país faturou mais três pratas, feitos da pernambucana Carol Santiago, S12 (baixa visão), da cearense Edênia Garcia (S3) e da fluminense Mariana Gesteira (S9), e quatro bronzes, com o paulista Gabriel Cristiano (S8), a gaúcha Susana Schnarndorf (S3), o revezamento misto 4x100m medley – 49 pontos (atletas com deficiência visual) e o revezamento misto 4x100m livre – S14 (deficiência intelectual).

O campeonato começou na segunda-feira, 31, e reúne 538 competidores de 67 países até o domingo, 6, no Manchester Aquatics Centre. O Brasil é representado por 29 nadadores de 10 estados (CE, MG, PA, PE, PR, RJ, RN, RS, SC e SP), sendo 15 mulheres e 14 homens. Com 28 pódios em todo o torneio (dez ouros, oito pratas e dez bronzes), o país ocupa a terceira colocação no quadro de medalhas e está à frente da anfitriã Grã-Bretanha (dez ouros, cinco pratas e sete bronzes). A China lidera com 14 ouros, 14 pratas e oito bronzes, seguida pela Itália (14 ouros, sete pratas e oito ouros). 

Além dos títulos de campeões mundiais, Cecília Araújo, da classe S8 (limitação físico-motora), e Talisson Glock (S6) tiveram outra coisa em comum ao subirem ao lugar mais alto do pódio. Ambos transformaram seus bronzes da última edição do torneio, na Ilha da Madeira, em Portugal, em medalhas de ouro na Inglaterra. Cecília foi campeã nos 100m livre, com o tempo de 1min0569s, e melhorou em mais de dois segundos a marca feita no Mundial passado (1min07s90). No Reino Unido, o pódio foi composto ainda pela italiana Francesca Palazzo (1min06s98), campeã na Ilha da Madeira, e pela britânica Alice Tai (1min06s68), prata em Portugal.

“O técnico da minha adversária me encarou antes da disputa, mas eu não me intimidei. Só fiquei mais motivada para ganhar a prova. Foi a realização de um sonho vencer os 100m livre. Eu sou uma velocista e as rivais geralmente me buscam no final. Mas eu me lembrei do conselho que recebi. Fiz uma boa chegada e o melhor tempo da minha vida”, disse a potiguar, que teve paralisia cerebral no momento de seu nascimento, o que limita os seus movimentos.

Campeão nos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020 nos 400m livre S6 e bronze no Mundial da Ilha da Madeira, Talisson Glock se reencontrou com o ouro no Reino Unido. Nesta quinta-feira, ele nadou em 4min52s42 e bateu os recordes das Américas e da competição. Em Portugal, ele havia sido bronze com a marca de 5min07s87.

“Foi incrível. Eu tenho uma conexão muito boa com o meu técnico [Felipe Silva]. Eu me sinto muito bem treinando com ele. Essa prova é a nossa prioridade e é ótimo ver o treino dar resultado. É um trabalho muito bem direcionado. Mas ainda tem muita coisa. Neste ano, ainda tem o Parapan e sempre penso nos Jogos Paralímpicos de 2024”, destacou o catarinense, que foi atropelado aos nove anos por um trem e perdeu o braço e a perna esquerdos. A prata em Manchester ficou com o italiano Antonio Fantin (4min56s30), ouro na Ilha da Madeira, e o bronze foi para o mexicano Raul Gutierrez (5min23s46).

O mineiro Gabriel Araújo foi bicampeão mundial (Ilha da Madeira e Manchester) nos 200m livre ao finalizar a prova em 4min01s51. Com a marca, ele superou os 4min22s96 do polonês Jacek Czech e os 4min31s55 do chileno Alberto Abarza. “Não foi o meu melhor tempo da vida, mas foi bom para a ocasião. Nadei forte e bem. Foi um aprendizado e ótimo para analisarmos estratégias”, avaliou o atleta, que tem focomelia, doença congênita que impede a formação normal de braços e pernas. Na mesma disputa, o paranaense Bruno Becker acabou na sétima colocação (4min58s16). 

Dona de três ouros no Mundial de Manchester (100m costas, 100m borboleta e 50m livre), Carol Santiago conquistou a prata nos 100m peito. Ela foi superada pela recordista mundial da prova, a alemã Elena Krawzow. A pernambucana nadou em 1min14s87, mas a rival, que já havia liderado as eliminatórias, fez o recorde da competição e subiu ao lugar mais alto do pódio (1min13s13). O bronze foi da sul-africana Alani Ferreira (1min22s44).

“É sempre desafiador, para mim, nadar os 100m peito. Exige muito de mim e deixa meu programa mais cansativo. Foi um grande desafio, mas saio satisfeita. Deixei tudo na piscina. Queria muito aquele ouro. Briguei por ele, mas, desta vez, não foi suficiente. Vou me contentar com a minha prata e trabalhar mais para, na próxima, tentar o título”, analisou a pernambucana, que nasceu com a Síndrome de Morning Glory, alteração congênita na retina que reduz seu campo de visão.

“A Elena é especialista e veio para Manchester só para nadar essa prova. Estávamos acompanhando a sua preparação. Sabemos que o programa da Carol é bem extenso. É normal que aconteça isso de ela ter adversárias específicas em cada um dos estilos. E ela está pronta para competir com todo mundo”, completou Leonardo Tomasello, técnico-chefe da Seleção Brasileira de natação paralímpica e treinador da Carol.

Antes, a primeira prata do dia havia chegado acompanhada com um bronze. A cearense Edênia Garcia e a gaúcha Susana Schnarndorf, que não disputaram o Mundial da Ilha da Madeira, voltaram à competição em Manchester e retornarão ao Brasil com medalhas na bagagem. Nos 50m costas da classe S3 (limitação físico-motora), Edênia nadou em 1min01s38, enquanto Susana fez a distância em 1min01s81. O ouro foi da britânica Ellie Challis (54s90). A paulista Maiara Barreto terminou em quarto (1min04s26). 

“Com 36 anos, chegar entre as melhores do mundo é muito especial. No ano passado, passei por situações ruins. Foi uma superação dentro da piscina e psicológica também”, disse Edênia, que nasceu com doença de Charcot-Marie-Tooth, também conhecida como atrofia fibular muscular. “Não fiz meu melhor tempo, mas cheguei bem perto. É sempre bom subir ao pódio e ganhar medalha em Mundial”, completou Susana, que tem a doença MSA (múltipla falência dos sistemas). 

Mariana Gesteira também foi prata ao fazer os 100m livre da classe S9 (limitação físico-motora) em 1min02s57. Ouro no Mundial da Ilha da Madeira e bronze nos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020, a fluminense foi superada pela australiana Alexa Leary (1min00s24). A espanhola Sarai Gascon ficou com o bronze (1min03s50). Na mesma prova, a também fluminense Camille Rodrigues ficou na sexta colocação (1min05s89). 

“Tenho muito orgulho da minha medalha e do meu tempo. Está muito calor no Manchester Aquatics Centre.  Senti um pouco. Até passei mal ao final. Foi difícil, mas cheguei à marca que queria. Isso tem muito significado”, comentou Mariana, que nasceu com Síndrome de Arnold-Chiari, uma má-formação do sistema nervoso central que afeta a coordenação e equilíbrio.

O paulista Gabriel Cristiano repetiu o bronze da Ilha da Madeira nos 100m livre da classe S8. No Reino Unido, ele completou a distância em 59s78, sendo superado pelo norte-americano Noah Jaffe (59s15) e pelo chinês Haijiao Xu (59s61).

O Brasil fechou a noite com mais duas medalhas de bronze, nos revezamentos mistos 4x100m medley – 49 pontos e 4x100m livre – S14. Na primeira prova, a equipe brasileira formada por Carol Santiago (S12), Matheus Rheine (S11), Lucilene Sousa (S12) e Guilherme Batista (S13) registrou a marca de 4min28s63, recorde das Américas. O ouro foi da Ucrânia, que estabeleceu o novo recorde mundial (4min25s78), e a prata da Espanha (4min28s10).

Depois, os brasileiros Ana Karolina Soares, Beatriz Carneiro, Gabriel Bandeira e João Pedro Brutos foram ao pódio com o tempo de 3min51s12. A Grã- Bretanha foi a campeã (3min42s42) e a Austrália, vice (3min45s58). 

Nos 200m medley S5 (limitação físico-motora) masculino e feminino, os paulistas Samuel de Oliveira e Esthefany Rodrigues ficaram fora do pódio. Samuel ficou em quarto (2min56s04), enquanto Esthefany acabou a prova na sétima posição (3min48s29). 

Confira a programação dos brasileiros nesta sexta-feira, 4 (horários de Brasília):
100m peito SB5 – 5h05 – eliminatórias

Laila Suzigan

400m livre S9 – 5h14 – eliminatórias
Camille Rodrigues

50m livre S8 feminino – 6h05 – eliminatórias
Cecília Araújo

50m livre S8 masculino – 6h10 – eliminatórias
Gabriel Cristiano

100m livre S12 feminino – 6h22 – eliminatórias
Carol Santiago e Lucilene Sousa

100m livre S12 masculino – 6h29 – eliminatórias
Douglas Matera

200m medley S14 – 6h46 – eliminatórias
Gabriel Bandeira e João Pedro Brutos

100m livre S11 – 7h00 – eliminatórias
Matheus Rheine

50m livre S3 – 7h08 – eliminatórias
Maiara Barreto e Susana Schnarndorf

50m livre (S1-S3) – eliminatórias
Gabriel Araújo (7h18)
Bruno Becker (7h22)

50m livre S6 – eliminatórias
Talisson Glock (7h32)
Daniel Mendes (7h35)

Revezamento 4x100m medley – 34 pontos – 7h43 – eliminatórias

50m livre S4 – 14h07 – final direta
Patrícia Santos e Lídia Cruz

Programa Loterias Caixa Atletas de Alto Nível
Os atletas Bruno Becker, Débora Carneiro, Douglas Matera, Gabriel Araújo, Gabriel Bandeira, João Pedro Brutos, Lucilene Sousa, Mariana Gesteira, Patrícia Pereira, Samuel de Oliveira e Talisson Glock são integrantes do Programa Loterias Caixa Atletas de Alto Nível, programa de patrocínio individual da Loterias Caixa que beneficia 91 atletas.

Time São Paulo
Os atletas Cecília Araújo, Esthefany Rodrigues, Gabriel Cristiano, Lucilene Sousa e Talisson Glock são integrantes do Time São Paulo, parceria entre o CPB e a Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo, que beneficia 106 atletas de 14 modalidades.

Assessoria de Comunicação do Comitê Paralímpico Brasileiro (imp@cpb.org.br)

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