O departamento de Saúde do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) iniciou um projeto, totalmente online, para analisar fatores fisiológicos, hormonais, e aspectos psicológicos e sociais da mulher no esporte.
A iniciativa é encabeçada pela médica Andrea Miranda e pela psicóloga Bruna Bardella, ambas do departamento de Saúde do CPB, e conta com a participação de oito nadadoras paralímpicas. O projeto, que teve início em fevereiro, consiste em reuniões online com as atletas, além de debates e reportes a equipe técnica da natação do CPB visando a compreensão dos impactos do ciclo hormonal das atletas no desempenho esportivo.
“Identificamos, por meio de algumas experiências que tivemos, a necessidade de um planejamento, de uma ação específica com as mulheres. Elas possuem uma fisiologia e necessidades diferentes dos homens. As particularidades do corpo feminino têm uma participação muito grande no desempenho das atletas em treinos e competições”, relata Leonardo Tomasello, técnico-chefe da Seleção Brasileira de natação e um dos técnicos responsáveis pelo Centro de Referência da natação no CT Paralímpico.
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A comissão técnica do CPB da natação é composta por homens, em sua maioria, e parte da missão da psicóloga do CPB Bruna Bardella, segundo ela, é explicar os bastidores e os tabus femininos.
“Conscientizamos a equipe técnica dos tabus sociais que as mulheres vivem em relação à menstruação, das piadinhas que a sociedade ainda faz, da vergonha que muitas mulheres sentem. Falamos também sobre a TPM [tensão pré-menstrual], variações de estresse, mostramos estudos que apontam que cerca de 80% das mulheres têm sintomas oriundos da TPM. Já com as atletas, focamos em como elas percebem o próprio corpo, como lidam com as mudanças que ocorrem dentro do mês”, explica a psicóloga.
Para a nadadora tetracampeã mundial nos 50m costas Edênia Garcia, da classe S3, o projeto traz inúmeros benefícios e mostra o quanto as mulheres têm ganhado atenção, além do espaço, no esporte paralímpico.
“Essa ação é mais do que bem-vinda! Nós já devíamos falar disso há muito tempo, não tem como negar as questões biológicas da mulher. Precisamos muito desconstruir a visão de que a mulher precisa se fazer de ‘homem’ para ser uma grande atleta. Quanto mais a gente e os profissionais que trabalham conosco conhecerem as particularidades do nosso corpo, mais ficamos próximas dos melhores resultados”, ressalta a nadadora.
No ano passado, Edênia foi uma das atletas convidadas para a Live Paralímpica: Mulheres no esporte e, na ocasião, a atleta relatou como foi lidar com os tabus envolvendo a primeira menstruação.
“As atletas das classes baixas compartilharam maiores dificuldades, desde uso de absorventes internos a saída da piscina para o vestiário”, explica Bruna.
“Passamos informações sobre as alterações fisiológicas hormonais, como utilizar essas características para otimizar o rendimento do treino em cada fase do ciclo hormonal feminino. O trabalho junto à equipe técnica traz a possibilidade de desenvolvermos programas de treinamentos ajustados individualmente para cada atleta mulher”, completa a médica Andrea Miranda.
Time São Paulo
A atleta Edênia Garcia é integrante do Time São Paulo, parceria entre o CPB e a Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo que beneficia 57 atletas de 11 modalidades.
Assessoria de Comunicação do Comitê Paralímpico Brasileiro (imp@cpb.org.br)
